Páginas

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Janelas, olhares, estranhamentos, repertórios

Desafios, encontros, olhares e estranhamentos numa quarta-feira intensa, perambulando pelo Centro do Rio. Numa agência de crédito, primeiro foi necessário explicar tudo direitinho para o gerente, que se preocupava com “o que aconteceria depois” ou “a finalidade disso”. Topada a ideia, ele e outras cinco funcionárias aplaudiram a apresentação.

Uma imbricada subida de escadas nos levou ao “alto lapa, baixo Santa”, como denominam o lugar alguns artistas e arte-educadores que vivem numa espécie de vizinhança de gostos, vontades e atuação. Ali, olhares atentos, alguns das janelas, numa significativa metáfora sobre frestas possíveis para a atuação do artista. Tanto aquele que, em determinada ocasião, vira público, quanto o que está ali, dançando no quintal, debaixo de uma aroeira.
“Fica o meu agradecimento ao artista que bem na minha casa lembrar que meu desejo é fazer arte. Não uma arte mercenária, que só pense em vender valores com os quais eu não compactuo. A ideia mostra que às vezes as pessoas podem fazer um gesto de gratidão através da arte”, disse Vanessa Lobo, 34, que é contadora de histórias e terapeuta.
Fabiano Manhães, 31, arte-educador, incluiu-se num das tantas questões abordadas pelo Dança em Domicílio.
“O mais bonito de tudo é ser surpreendido por algo inesperado, que é a arte, e pela questão que é a dicotomia da sobrevivência fazendo arte, essa questão do dinheiro versus a arte.”
Seguimos para a sede de um grupo de teatro na Lapa e, incrivelmente, fomos recebidos com estranhamento e certa distância. De novo, a questão dos repertórios e da disponibilidade emergiu. Vencida essa resistência, os seis integrantes que assistiram ao trabalho se identificaram com a proposta: “É o nosso dilema. A gente faz de tudo, até faxina para viver de arte”.
No salão de beleza, uma entrega que provocou emoção na cabelereira e psicanalista Jane Camacho. No vaivém dos afazeres, ela parecia estar distante do que acontecia ali, entre mesas de lavar cabelos, secadores e mesinhas de manicure. Mas, ao fim, abraços e lágrimas. O mesma carga de emoção envolveu uma secretária de um escritório de advocacia, no Centro.
 “Queria tanto essa leveza, ganhei o dia!”
“Para o bem ou para o mal, estamos mergulhados na mesma questão”, identificou-se a produtora Camila Martins, na Lapa.
O dia teve ainda duas entregas em repartições públicas municipais do Centro, finalizando com uma apresentação para Diana De Rose, gerente de dança da Secretaria Municipal de Cultura, que assistiu ao trabalho ao lado de colegas de sala.
“Esse formato é tão rico em termos de difusão. É essencial levar a dança a lugares fora do comum, dos espaços onde ela é esperada. Espero que Cláudia Müller tenha ideias assim”, comentou Diana.

Nenhum comentário:

Postar um comentário