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domingo, 14 de outubro de 2012

Sobre como vejo Cláudia Müller
 
Eu já escrevi no Idança sobre quando não vi Cláudia Müller. Foi em junho de 2010, no Interação e Conectividade, organizado pelo Dimenti, em Salvador. Foi quando ela levou para lá o Exhibition, trabalho que, já falei a ela mesma, me indignou profundamente no primeiro contato. Afinal, estávamos num encontro de dança, com todo um contexto próprio, e, eis que, naquele momento, muita gente estava fora da sala, tentando entrar para dentro do teatro, pensando se conseguiria ver ou não a performance que estava em cartaz.
Além dos que estavam fora da sala, havia os que estavam no foyer, igualmente aguardando sua hora de serem chamados para “o momento mágico” (as aspas são ironia gráfica) de assistir à dança. A incomodação foi crescendo na medida em que via uma série de recursos visuais, em ler textos e vídeos falando sobre a importância do trabalho e tal, sobre ser ele o primeiro trabalho a ser incluído no museu virtual de blábláblá. E, lá fora, o povo gritando, em protesto, para se incluído entre os que estariam na iminência de ver a exibição da bailarina.
Até que começou a cair a ficha. Até que o que percebi era que nesse contexto é que estava sendo evidenciadas algumas das questões desta obra e do trabalho de Cláudia: o deslocamento do espaço de ação do artista da dança, a expansão dessas possibilidades, o diálogo da dança com a performance, a conversa com as artes plásticas, a apropriação indistinta de modos de fazer e de procedimentos de ação sem tarja, de modo a implementar as tão debatidas contaminações e tal.
Comecei a ver melhor Cláudia Müller, como escrevi então. E esse olhar é sempre surpreendido pelo alcance das ações artísticas, das ações políticas, das ações estéticas, das ações conceituais que seu trabalho aciona. Estar agora envolvido em mais uma fase de seu projeto Dança Contemporânea em Domicílio, que inclui conversas em torno do vídeo Fora de Campo, é um novo front, uma nova janela para entender melhor as propriedades desse trabalho tão significativo para a dança contemporânea brasileira. (Carlinhos Santos)
 

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