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quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Tempero da cultura, olhos marejados

Dia cheio, dia de muitas alegrias e certezas ontem, na Pavuna.
Alegria: chegar a um salão de beleza pequenininho, conversar com Maria Alves, 53 anos, ou Zilma, que é seu nome artístico, e ver a mudança do rosto dela na saída.
“É muito bom quando chega alguém assim e entrega uma dança pra você. Aconteceu uma coisa estranha: à medida que ela ia dançando, foi tirando o estresse do meu corpo. Foi como se o movimento dela me aliviasse.”
Segue a caravana do Dança Contemporânea em Domicílio, agora com parada na Escola Municipal Telêmaco Gonçalves Maia. Quem recebe é o diretor, Marcos de Oliveira fraga, 46 anos, que aplaude o presente.
“Em nosso país, o artista é pouco reconhecido. Por isso, esse é um trabalho legal. E surpreendente também. A Arena (Cultural Jovelina Pérola negra) faz um trabalho show de bola. Há uma necessidade de as pessoas buscarem cultura”, avaliou o professor, que é vizinho da atuante Arena Cultural Jovelina Pérola Negra.
Entrega versus entrega, eis-nos na sede do grupo William do Gás. Antes da dança, descobrimos a ação ecológica do empresário, que coleta óleo de cozinha para reciclagem. Na hora da dança, ele chama seus funcionários. Plateia de seis pessoas. Olhos marejados no corpo daqueles trabalhadores braçais. Edilson Wancok, 39, é um deles, vivendo momento inaugural na vida:
“É primeira vez que vejo uma apresentação tão próxima de mim. Para fazer isso tem que ter força de vontade, não?!”
Emocionado, William de Abreu, 47, também é dos que acredita que a região é carente de arte e que, de alguma forma, a Arena Cultural ajuda a reduzir essa carência.
“É um privilégio ter a Arena por perto. E uma apresentação dessa pega a gente de surpresa, sou fã desse diferencial.”
Meio dia e pouco, o tempero do restaurante Bacalhau de Tamanco ganhou tempero extra. Foi ali, entre mesas e clientes servidos de generosos pratos de arroz, feijão, farofa, peixe frito e outras delícias, que Cláudia Müller entregou dança para a empresária Fátima Souza.
Na avaliação do acepipe cultural, Fátima foi só elogios:
“Tudo que é cultura, que é levado para a população, é bem vindo. É uma emoção, uma energia boa que dá. Depois dessa apresentação fiquei melhor. E meus clientes aplaudiram também.”
Na casa de Zuila Goulart Amoreti, professora aposentada de 66 anos, entrega foi no quintal. Silenciosa, ela acompanhou tudo com atenção, elogiando o projeto no fim. O mesmo aconteceu na Escola Wilton Garcia. Depois de duvidar do que estava acontecendo e verificar a veracidade da entrega, a diretora Claudia Gonçalves Rezende assistiu à apresentação na área coletiva da escola, junto com um aluno que estava de castigo. No fim ela, comentou:
“Achei muito interessante, um desabafo do artista quanto ao patrocínio e produção. As pessoas não vêm o lado da arte, só o dinheiro.”

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